Fábrica da Delfin Fármacos

A Delfin Fármacos e Derivados está localizada em Lauro de Freitas, Bahia, para a produção de radiofármacos para diagnóstico de PET-CT. Sob a direção do físico Daniel Coiro, diretor técnico da empresa, as instalações pretendem ir além da produção do FGD, radiofármaco usado para estudo em PET-CT . “Nós não somos apenas produtores de FDG, somos também um centro de pesquisas que pretende pesquisar outros fármacos, para outros tipos de patologias. Os cânceres são ávidos por glicose, mas nem todos respondem bem à glicose. Então você tem outros tipos de cânceres que pedem outros marcadores. A ideia é desenvolver novos marcadores para outros tipos de cânceres”, afirma Coiro.

O equipamento mais sensível do laboratório é o Cíclotron, onde é feita a aceleração para produzir o flúor.  De lá, ele desce 30 cm de profundidade e anda por um duto com 25 cm de concreto a sua volta e vai para as hot cells, onde é feita a fusão. A casamata do Cíclotron tem 1,90 metro de parede e 2,10 metros no teto. O equipamento pesa 20 toneladas e é o único do país instalado num labirinto, os demais usam portas de encaixe. “Isto dá mais segurança à instalação”, afirma o diretor técnico da Delfin.

O passo seguinte é o envio do flúor para uma sala com chumbo no piso, onde estão os sintetizadores. Lá a substância recebe o deoxyglucose para formar o FDG. “Hoje, nós somos o único centro a ter carbono 11 no país, que permite ver precocemente o câncer da próstata. Mas a vida física do carbono é de 20 minutos. Por isto teremos um PET de pesquisa nos andares acima”, esclarece Coiro.

Uma vez produzido o FDG este vai para um fracionador automático que impede o contato humano com o produto, visando a proteção contra a radiação e a garantia da esterilidade. Toda a operação é automatizada e na sala, de Classe 100.000, existe controle de partícula. Todo o composto produzido passa por controle de qualidade, inclusive com um cromatógrafo gasoso para ver se existe algum outro tipo de composto que não o flúor, e para verificação do nível de álcool e éter, entre outros. O material, cuja vida física é de 110 minutos, só pode ser usado após a autorização da própria Delfin, atestando sua condição de uso.

No prédio recém-inaugurado existe espaço para ampliação em todas as áreas, visando a produção de novos compostos. “Inclusive já existem novos equipamentos para produção de outros marcadores à medida em que a equipe vai se familiarizando com os atuais. A ideia é chegar no marcador brasileiro”, esclarece Coiro.

Todo o trânsito de material é através de pass thru. Onde houver possibilidade de existir material radioativo há monitoração. Inclusive existem monitores portáteis. Dentro da casamata existe um detector de nêutrons, uma vez que o próton ao ser lançado na água gera muita energia.

Se, por um acaso, houver algum problema de contaminação, existem chuveiros de descontaminação, cuja água vai para um tanque de caimento permanentemente monitorado. Em todas as áreas há identificação dos usuários. Como medida de proteção, existe diferencial de pressão em todos os ambientes e não só naqueles controlados. O menor ponto de pressão é a casamata. Assim, se por uma infelicidade acontecer algum acidente, todo o material radioativo vai para a casamata que tem pressão de -15 Pa. Todos os pontos da instalação possuem medidor de radiação em tempo real.

O controle de todos os equipamentos, incluindo o Cíclotron, é computadorizado através de software desenvolvido em conjunto com a Universidade da Bahia. Na hipótese improvável de vazamento, o sistema trava, isolando-o, mesmo que o próprio equipamento já possua o seu próprio sistema de segurança. Ou seja, há redundância em toda a instalação.

Sistema de climatização e produção de água gelada

O sistema de ar condicionado ocupa um lugar privilegiado nesta sensível instalação. O engenheiro Mário Sérgio Pintos de Almeida, diretor da MSA Engenharia, responsável pelo projeto de climatização, explica: “É um projeto de muita segurança. Tem um chiller efetivo e um reserva. Havia necessidade de água quente para fazer o  controle de umidade. Assim, os chillers são dotados de dessuperaquecedores para geração da água quente, prioridade da instalação. A água fria gerada a mais é levada para os climatizadores de ar exterior que trabalham com 100% de ar para fazer o controle de pressão das salas limpas. São diversos ambientes classificados, desde a capela, com classe 100, até a classe 100.000. A casamata do Cíclotron deve ter sempre pressão negativa devido à radioatividade.  É um projeto que teve aprovação do CNEN (Comissão Nacional de Energia Nuclear), com medições diversas deste órgão antes do início da operação.”

A água gelada produzida nos chillers não é apenas para a climatização, mas também para o Cíclotron. Existe, inclusive, redundância dupla. Além do chiller reserva, que atende todo o sistema de climatização e o Cíclotron, existe um terceiro chiller industrial, com 30 TR de potência, que entra em funcionamento na improvável eventualidade de os dois chillers existentes ficarem fora de operação, com a exclusiva função de alimentar o núcleo do Cíclotron, que por trabalhar com radioatividade jamais pode ficar sem água gelada. Pelo mesmo motivo, além dos três chillers existe, ainda, um tanque para acumulação de água gelada que funciona como uma espécie de pulmão do sistema: em caso de falta de energia da rede o tanque supre o Cíclotron até que os geradores de back up entrem em funcionamento. Nos demais componentes, desde trocadores de calor a bombas, a redundância é total.

Na descrição de Almeida “a casa de máquinas tem sistema primário, chiller e bomba; secundário, da bomba para os climatizadores; secundários, entre bomba e os trocadores de calor que servem o Cíclotron; do trocador de calor para outro trocador de calor do Cíclotron, que seria o terciário; e dentro do Cíclotron seu próprio sistema, que seria o sistema quaternário. Os trocadores de calor servem para alimentar a água de operação do Cíclotron. Por isto são três trocadores, dois funcionando e um de reserva; e três bombas, duas funcionando e uma de reserva. Sempre em redundância. Estes trocadores servem também aos aceleradores lineares”. O sistema é dotado de válvulas de balanceamento.

Nas salas limpas, além da capela onde se trabalha o material radioativo, existem áreas com pressões, temperatura e umidade para cada ambiente. Por isto o projetista especificou caixas de Volume de Ar Variável (VAVs) tanto na entrada quanto na saída do ar. Para o sistema de reaquecimento, que controla a umidade nas salas, foram acopladas serpentinas de água quente, alimentadas pela água de dessuperaquecimento dos chillers, em todas as VAVs. Com isto, logrou-se controle absoluto, sala por sala, de pressão, umidade e temperatura.

Para segurança da instalação, não só a pressão negativa tem que ser garantida constantemente. Foram necessários exaustores, também redundantes, trabalhando com pressão negativa, incluindo sanitários, vestiários e salas de quarentena. “Trata-se de um sistema de controle muito sofisticado. Foi difícil o TAB (Teste, Ajuste e Balanceamento), assim como o ajuste operacional para ele poder funcionar corretamente”, explica Almeida.

Os dutos de insuflação e retorno da casamata do Cíclotron também mereceram atenção especial. Como a radiação pode passar por qualquer perfuração os dutos têm chicana dentro do concreto para impedir o caminho favorável à passagem dos raios gama.

O piso técnico também tem suas especificidades.  Está localizado acima das salas limpas e dos ambientes anexos, permitindo que todas as manutenções, incluindo elétrica, ar condicionado, iluminação e exaustão, possam ser realizadas sem interferência nos ambientes.

Para André Fontes, diretor da Artemp, responsável pela execução dos sistemas de climatização e exaustão, a instalação tem uma característica ímpar que é o sistema de controle individual de umidade, temperatura e pressão por ambiente. “O ajuste do sistema de controle foi o ponto mais desafiador. O de umidade foi feito na entrada dos fancoils primários. Todo o ar externo é desumidificado e injetado nos fancoils de condicionamento já tratado; internamente é feito o controle de temperatura através de serpentinas de água quente instaladas nas VAVs. A água quente é gerada pelo rejeito do chiller, onde existe um laço de bombeamento de água quente que alimenta todas as serpentinas das VAVs.”

Fontes explica, ainda, que os chillers têm uma série de componentes que não são de série. “São equipados com compressores scroll com atenuadores de ruído, sistema de dessuperaquecimento para geração de água quente, além de inversores de frequência para os ventiladores da condensação a ar associados ao sistema de dessuperaquecimento. Em todos os laços, tanto de água quente, quanto de água gelada, existem tanques de expansão para manter a pressão no sistema de bombeamento.”

O diretor da Artemp explica, ainda, que sua empresa foi também a responsável pelo sistema de automação do ar condicionado. “Tanto da CAG, quanto dos fancoils e dos sistemas de controles das salas, equipadas com sistema de VAV tanto na insuflação quanto no retorno, uma vez que o controle de pressão é realizado através das VAVs de retorno”, conclui.

Ronaldo Almeida

Publisher da Revista Controle de Contaminação

ronaldo@nteditorial.com.br

Ficha Técnica:

Localização: Loteamento Jardim Aeroporto, Rua Sheyla Pitta, Lotes de 9 a 13, Lauro de Freitas – BA

Projeto de arquitetura: Protécnica

Construtora: Falcão & Garrido

Projeto de Climatização:  MSA Engenharia

Instalação de Climatização e Automação: Artemp Engenharia

Equipamentos: Cíclotron (GE), Acelerador linear (Elekta)

Construção das salas limpas: Isoeste

Pisos: Fademac

Chillers: Carrier

Unidades de tratamento de ar: Trox

Difusão de ar e caixas VAVs: Trox

Filtros de ar: Trox

Válvulas de balanceamento: TA Hydronics

Tanques de expansão do sistema de climatização: TA Hydronics

Dutos de ar: Powermatic

Bombas do sistema de climatização: KSB

Isolamento térmico: Polipex

Ventiladores do sistema de exaustão: Berliner Luft

Atuadores das VAVs: Belimo

Trocadores de calor a placa: Alfa Laval

Painel de controle e software do sistema de automação: Multipla

 

Disponível em:

ENGENARIA E ARQUITETURA, <http://www.engenhariaearquitetura.com.br/blog/ciencias-da-vida/?p=547>